O trabalho sexual, especialmente o de garotas de programa, é uma atividade que gera renda significativa para muitas mulheres no Brasil, mas também levanta questões práticas: elas podem se formalizar como Microempreendedoras Individuais (MEI)? A possibilidade de se registrar como MEI traz promessas de benefícios, como aposentadoria e acesso a crédito, mas esbarra em barreiras legais e culturais.
O Microempreendedor Individual (MEI) é uma categoria criada para formalizar pequenos negócios no Brasil. Com uma taxa fixa mensal de cerca de R$ 70 (em 2025), o MEI oferece vantagens como CNPJ, emissão de notas fiscais e contribuição ao INSS, garantindo direitos como aposentadoria e auxílio-doença. Para se enquadrar, é preciso faturar até R$ 81.000 por ano (valor de 2023, ajustável) e exercer uma das atividades permitidas pela legislação, como "serviços pessoais" ou "promoção de vendas".
Mas onde as garotas de programa entram nisso? A prostituição não é ilegal no Brasil, desde que realizada por maiores de idade e sem exploração, mas também não é reconhecida como profissão regulamentada. Isso cria um limbo jurídico que torna a formalização um desafio.
Tecnicamente, não há uma categoria específica no MEI para "garota de programa" ou "acompanhante". No entanto, algumas profissionais tentam se encaixar em ocupações genéricas, como "outras atividades de serviços pessoais" (CNAE 9609-2/99). Essa classificação abrange serviços variados e poderia, em teoria, incluir o trabalho sexual autônomo. Por exemplo, uma acompanhante que atua em grandes cidades, como as acompanhantes em SP, poderia usar esse código para se registrar.
O problema é que o MEI foi pensado para atividades comerciais ou de prestação de serviços mais convencionais. Não há consenso entre contadores e advogados sobre a legalidade dessa interpretação para o trabalho sexual. Alguns defendem que, como a prostituição não é crime, nada impede a formalização; outros alertam que a Receita Federal poderia questionar a natureza da atividade, exigindo esclarecimentos.
Para garotas de programa, o MEI traria vantagens reais. O pagamento mensal fixo substitui impostos mais altos, como o carnê-leão (que pode chegar a 27,5% da renda), e garante benefícios previdenciários. Uma profissional que ganha R$ 5.000 por mês, por exemplo, pagaria apenas R$ 70 como MEI, contra até R$ 1.375 no modelo tradicional de autônoma. Além disso, o CNPJ facilita abrir contas bancárias empresariais, contratar planos de saúde ou até conseguir empréstimos – algo útil para quem quer investir em sua carreira ou mudar de ramo no futuro.
Outro ponto é a segurança jurídica. Declarar renda como MEI evita problemas com a Receita Federal, que pode investigar movimentações bancárias suspeitas, como as de uma acompanhante orientais em São Paulo que fatura alto em dinheiro ou PIX.
Apesar dos atrativos, há barreiras. O limite de faturamento do MEI (R$ 81.000 anuais) é baixo para muitas acompanhantes, especialmente as de luxo, que podem ganhar isso em poucos meses. Ultrapassar esse teto exige migrar para outra categoria, como microempresa, com tributação mais complexa. Além disso, o MEI obriga a emissão de notas fiscais, o que é inviável para clientes que buscam sigilo – imagine um homem casado pedindo recibo após um programa!
O estigma social também pesa. Formalizar-se significa expor a atividade a órgãos públicos, algo que muitas evitam por medo de preconceito ou represálias. Sem falar no debate ético: algumas garotas de programa veem a informalidade como parte da liberdade do ofício.
Para quem não quer ou não pode ser MEI, há opções como o carnê-leão, que recolhe imposto mensalmente sobre renda informal. Outra saída é manter tudo na informalidade, mas isso exige cuidado com movimentações financeiras para não atrair fiscalizações. Muitas preferem guardar dinheiro em casa ou investir em bens, embora isso limite o acesso a direitos.
Ser MEI como garota de programa é possível em teoria, mas depende do contexto. Para quem fatura até o limite e quer segurança jurídica, pode ser uma boa escolha. Para acompanhantes de alto padrão ou que priorizam anonimato, a informalidade ainda reina. No Brasil, a falta de regulamentação clara mantém essas profissionais em um dilema: formalizar e ganhar direitos ou ficar na sombra e preservar a discrição. Cabe a cada uma pesar os riscos e benefícios.
Fonte: Agência Brasil