Nascido em 1900, em Caetité (BA), AnĂsio Teixeira formou-se em direito pela Universidade do Rio de Janeiro, estado do qual foi secretĂĄrio de Educação. Jurista, intelectual e escritor, foi muito atuante na década de 1930, quando o paĂs vivia o auge de um debate em prol da universalização da escola pĂșblica, laica, gratuita e obrigatória. Na época, integrou o grupo de educadores responsĂĄveis pelo Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, que propunha a reforma do sistema de ensino brasileiro.
Defendia uma educação construtivista, na qual os alunos atuariam como agentes transformadores da sociedade. Manifestava constantemente preocupação com uma educação que fosse "livre de privilégios", e se dizia contra a educação como "processo exclusivo de formação de uma elite, mantendo a grande maioria da população em estado de analfabetismo e ignorância", motivo pelo qual se dizia inconformado com a alta taxa de analfabetismo do paĂs.Entre o seu legado, estĂĄ a criação da Universidade do Distrito Federal, em 1935, durante sua passagem pela Secretaria de Educação da Bahia, em 1950; e a fundação da Escola Parque (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), em Salvador – instituição considerada pioneira por trazer, em sua gĂȘnese, a proposta revolucionĂĄria de educação profissionalizante e integral, voltada para as populações mais carentes.
Foi também foi um dos idealizadores do projeto que resultou na criação da Universidade de BrasĂlia (UnB), inaugurada em 1961, da qual veio a ser reitor em 1963. Foi convidado para assumir o Inep após a morte prematura de Murilo Braga em acidente aéreo. Para assumir o novo cargo, deixou a Campanha de Aperfeiçoamento de NĂvel Superior (Capes), do Ministério da Educação.
Durante o Regime Militar, em 1964, foi para os Estados Unidos, para lecionar nas universidades de ColĂșmbia e da Califórnia. De volta ao Brasil, em 1966, tornou-se consultor da Fundação GetĂșlio Vargas.
Professora da Faculdade de Educação da UnB, Catarina de Almeida Santos diz que Anisio Teixeira é, sem dĂșvida, o maior defensor que o paĂs jĂĄ teve de uma educação enquanto direito e de uma escola pĂșblica enquanto espaço de construção da democracia e da justiça social.
"Toda sua vida foi dedicada a fazer com que cada pessoas no Brasil pudesse ter acesso a uma educação de qualidade. Atuando no debate pĂșblico, na gestão e planejamento das polĂticas educacionais, ele deixou muitos legados, como o plano educacional de BrasĂlia, assim como a UnB", disse à AgĂȘncia Brasil a professora.
Para o professor Francisco Thiago Silva, do Departamento de Métodos e Técnicas da Faculdade de Educação da UnB, o tĂtulo concedido a AnĂsio Teixeira é muito merecido. "Ele foi um dos primeiros, senão o primeiro educador brasileiro e um dos primeiros da América Latina, a defender educação pĂșblica para todos, principalmente para a classe trabalhadora, de maneira integral, desde a educação infantil até universidade. Defendia também um ensino baseado no conhecimento cientĂfico de alto nĂvel", disse o professor.
Ele acrescenta que AnĂsio Teixeira foi responsĂĄvel por um projeto de educação verdadeiramente brasileiro, "pensado a partir de questões nacionais que colocassem, no centro do processo de ensino, a população brasileira, com vistas à emancipação humana".
Arte educadora, pedagoga e professora aposentada das redes pĂșblica e privada, Neide Rafael diz que AnĂsio Teixeira atuou em defesa de uma educação desenvolvida de forma conjunta com a cultura. "Não existe educação sem cultura, nem cultura sem educação", afirma.
Nesse sentido, acrescenta, "a participação comunitĂĄria é fundamental, com os pais participando do processo educativo de seus filhos, na devolutiva sobre o que nós estamos precisando, sobre o que a escola estĂĄ oferecendo e sobre as responsabilidades enquanto famĂlia. A gente vĂȘ isso em Cuba. LĂĄ, os alunos são avaliados por participação de respeito à integração familiar".
"A escola integral [defendida por AnĂsio Teixeira] é canal para o Estado assumir partes importantes como educação, saĂșde e lazer. O mĂnimo que uma escola pode ser é inclusiva, onde, em vez de marginalizado, o menino é amparado naquilo que é bĂĄsico, de uma forma constitucional, com direitos e deveres", destaca.
Fonte: AgĂȘncia Brasil