Para o estudo, foram analisados dados de seis paĂses: Argentina, Brasil, Colômbia, El Salvador, México e Peru. Eles foram escolhidos por concentrarem, ao mesmo tempo, 80% da população privada de liberdade e 80% dos casos de tuberculose na América Latina. Em 2019, de todos os casos novos de tuberculose nesses lugares, 27,2% foram relacionados ao encarceramento. O percentual é maior do que qualquer outro fator de risco, como HIV, desnutrição, diabetes, subnutrição, tabagismo e alcoolismo. Em nĂșmeros absolutos, o aumento da privação de liberdade produziu 34.393 casos excessivos de tuberculose em 2019.
Os dados especĂficos do Brasil mostram que 36,9% dos casos novos de tuberculose aconteceram por causa do encarceramento. Na sequĂȘncia, vieram outros fatores, como HIV e alcoolismo, com pouco mais de 10% cada, e tabagismo, subnutrição e diabetes com menos de 10% cada. O percentual brasileiro relacionado ao encarceramento só não é maior do que em El Salvador (58,1%)."Tuberculose faz parte do programa Brasil SaudĂĄvel e estĂĄ entre as 11 doenças que o paĂs pretende eliminar ou reduzir a carga. Atualmente, a taxa de incidĂȘncia da doença é de 40 casos por 100 mil e o objetivo é de chegar a 10 casos por 100 mil até 2030, o que representa redução de 75%. Se não tivermos abordagens inovadoras para reduzir a carga da doença na população privada de liberdade, a gente não vai atingir a meta", analisa o infectologista Julio Croda, que fez parte do estudo. Ele é pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Nos Ășltimos 30 anos, a população em privação de liberdade quase quadruplicou na América Latina. Crescimento mais rĂĄpido do que em qualquer outra região do mundo. As condições prisionais elevam o risco de transmissão e progressão da de tuberculose por motivos como superlotação, ventilação precĂĄria, desnutrição e acesso limitado a cuidados de saĂșde.
O estudo conclui que intervenções no encarceramento - como uma redução de 50% nas taxas de entrada na prisão e duração do encarceramento - poderiam diminuir a incidĂȘncia da tuberculose na população geral do Brasil em 28,9%, no Peru em 16,4%, na Colômbia em 13,7%, na Argentina em 10,3% e no México em 3,0% até 2034.
Os pesquisadores defendem que sejam pensadas estratégias para a redução do próprio encarceramento em massa. E que agĂȘncias internacionais de saĂșde, ministérios da justiça e programas nacionais de tuberculose devem enfrentar a crise sanitĂĄria com estratégias abrangentes, para reduzir os riscos de transmissão dentro dos presĂdios.
"Quando a gente olha o que vem sendo feito em todos os paĂses para reduzir a carga da tuberculose nessa população carcerĂĄria, ainda são ações muito limitadas. No Brasil, existe uma recomendação clara do Ministério da SaĂșde de triagem em massa, de ofertar exame de diagnóstico de tuberculose para toda pessoa privada de liberdade pelo menos uma vez ao ano. Na maioria das prisões brasileiras, isso não ocorre, seja por falta de equipe, seja por falta de acesso aos testes diagnósticos", diz Julio Croda.
Fonte: AgĂȘncia Brasil