Trabalho que impulsiona II - C

Psicólogo diz que trabalhador não tinha perfil suicida

Defesa da família da vítima, que morreu atropelada por trator dentro da empresa Biosev contratou especialista para traçar perfil psicológico de Djalma

Por João Rocha Filho em 25/07/2022 às 06:50:00

Uma análise do temperamento, dos hábitos, dos valores e do momento que vivia o operador de máquinas Djalma Florêncio da Silva, que morreu depois de ser atropelado por trator de colheita mecanizada durante trabalho na Biosev, empresa do grupo Raízen, multinacional que atua no setor sucroenergético, revela que a vítima não tinha perfil suicida e que na circunstância em que estava dificilmente teria tirado a própria vida.

A Autópsia Psicológica, que é um tipo de avaliação realizada retrospectivamente, com o objetivo de compreender os aspectos psicológicos de uma determinada morte, especialmente em casos de morte violenta que exista suspeita de suicídio, foi realizada pelo psicólogo Renisson Costa Araújo, profissional especializado em Saúde Mental do Trabalhador que tem formatado um curso com nove módulos falando sobre Prevenção e Intervenção ao Suicídio, tem diversas palestras na área, algumas em parceria com o Coren - Conselho Regional de Enfermagem, de Mato Grosso do Sul e é uma das maiores autoridades no assunto, do Centro-Oeste do Brasil.

Na análise prévia, o especialista disse que Djalma possuía na estrutura social e no histórico de vida, diversos fatores de proteção, que quando presentes diminuem significativamente a chance de a pessoa cometer suicídio, segundo a teoria de Durkheim. Dentre esses fatores, o psicólogo elencou relacionamento estável e de longa data; emprego fixo; filhos; pais vivos; estabilidade financeira; sem histórico de abuso de substância; sem histórico de transtornos mentais ou uso de psicotrópicos; membro ativo de uma comunidade religiosa; sem registro de conflitos interpessoais e sem doença crônica/degenerativa.

"Ver o caso como suicídio causa uma certa estranheza. São raros os casos de suicídios envolvendo pessoas com as mesmas condições que se encontrava Djalma. Seria uma exceção.", ressaltou o profissional que foi contratado pelo escritório Medeiros & Medeiros Advogados Associados, para realizar a Autópsia Psicológica da vítima, a pedido da família.


Foto: Divulgação

A viúva do trabalhador, Maria de Fátima Magalhães de Moura Silva, contou que o marido tinha acabado de construir a casa própria, faltavam poucos dias para entrar de férias e estava com viagem marcada com a esposa e o filho. Toda família o tratava como uma espécie de conselheiro, pela maturidade e a forma como via a vida. A vítima também fazia parte do Terço dos Homens e era bastante ativo na Igreja Católica, religião que é contra o aborto e vê o suicídio como uma rejeição ao dom da vida e à graça Divina.

Maria declara que nunca acreditou na versão dada pela empresa Biosev, de que o marido teria tirado a própria vida durante o expediente. Ela lembra que o casal estava vivendo um dos melhores momentos. "Era a melhor fase da nossa vida. Ele estava cheio de sonhos e projetos. Tínhamos acabado de conseguir a nossa casinha. O Djalma sempre foi sorridente, brincalhão e ajudava as pessoas. Acredito que aconteceu qualquer coisa, menos suicídio, porque ele não tinha nenhuma doença e nunca sofreu de depressão, pelo contrário, a gente estava muito feliz", declarou a Maria emocionada.

Fonte: CNon - Canal de Notícias On-Line

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